quarta-feira, 31 de outubro de 2012





HomenagemaoMestre



"A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar"
                                                                         rubemalves

                                        http://www.youtube.com/watch?v=6OjY6saoOdE 
                    
trilhasonora.>PequenoPrincipeFeliz>Direção:RonaldoMichelloto(inmemoriam)




*Leiam...Please! Ébomd+


A Luta do Século

       - A luta do século! - bradou o Guedes.
       - Churrascão lá em casa! - completou o Vasquez.
       Murmúrios bovinos ecoaram na repartição. O Teles deu até aquela coçadinha no alto da nuca, bem onde o cabelo terminava e a careca começava. Churrasco na casa do Vasquez rimava com catástrofe. A casa era ótima, quintalzão, piscina e tudo mais, e o Vasquez era um querido. O problema era que ele não entendia nada de churrasco. Uma vez achou uma peça de cinco quilos de músculo perdida entre as picanhas, arrebatou-a sem sequer conferir a etiqueta e chegou em casa exultante com a barganha, até um segundo olhar confirmar que aquela carne não seria mastigável nem se assasse por cem anos. Fora que chovia, sempre chovia. Era batata, assim que o carvão entrava em brasa, o céu desabava. Mas desta vez era diferente, a luta era do século, e o churrasco também seria. A luta aconteceria na noite de Las Vegas, e passaria aqui de madrugada, quase ao vivo, compraram logo o pay-per-view pra não ter erro. Portanto, o churrasco seria à noite, não teria tanto problema assim se chovesse, o que era praticamente certo. Diziam que quando o Vasquez marcava um churrasco as trajetórias das frentes frias alteravam-se radicalmente. Alertaram o Guedes, que era novo na repartição, mas ele não titubeou:
       - N_ão tem problema, o evento principal vai ser sob um teto.
       E quanto ao outro problema, o do churrasco de músculo, também não era um problema: o Guedes era um ás do espeto, e sua fraldinha tinha fama internacional. Logo o pessoal matou a charada: a ideia do churrasco tinha sido toda do Guedes, que, também logo, o pessoal descobriu que tinha três grandes paixões: churrasco, artes marciais e a Glorinha da contabilidade. Ah, a Glorinha da contabilidade, nesta paixão o Guedes não estava sozinho: mais da metade da repartição arrastava um caminhão pela Glorinha da contabilidade. A Glorinha, assim como mais da metade da repartição, não dava muita bola para churrascos ou lutas, mas iria à festa por consideração, já que também era uma festa de boas-vindas para o Guedes.
       Chegada a grande noite, tradicionalmente chuvosa, o Guedes, sob o toldo, impressionou a todos em geral e a Glorinha em específico com sua fraldinha, sua linguiça e suas previsões abalizadas para a grande luta. Quando os contendores subiram ao ringue em HD, e quando até quem odiava sangue estava ansioso para ver algum jorrar, entre mordidas de picanha mal-passada, caiu um raio no transformador da esquina, que explodiu em chamas azuis. Cinco segundos depois, outro transformador explodiu, mais cinco segundos e chegou o Teles.       O Teles era famoso por ter conseguido certa vez derramar a mesma taça de vinho no sofá branco do anfitrião e na camisa de seda, também branca, do supervisor mais chato da repartição. Diziam que o Teles conseguia quebrar até uma faca Guinsu. O Teles chegou, virou para dar um abraço em alguém e deu uma cotovelada no que estava atrás. Lembrou que esqueceu o cigarro no carro e saiu. Deixou a porta aberta. Quando o Vasquez voltou com as velas, notou que os cachorros tinham fugido. Correu pela rua, xingando o sujeito que deixou a porta aberta até a nona geração. E volta o Teles, que olha bem dentro dos olhos do Guedes, que estava acompanhando tudo, ainda meio chocado com a perspectiva da realidade, e diz: "não fui eu". Alguns dos mais frustrados pelo súbito blecaute chegaram a insinuar que o Teles tinha que ter alguma coisa a ver com aquilo - no mínimo, teria batido com o carro no poste. Quando o Guedes ouviu esse cochicho, entrou em chamas. Aquela luta era a revanche da revanche da revanche. Guedes aguardava aquilo faziam exatos oito meses e vinte e sete dias. Fora que estava se matando para fazer um churrasco perfeito, mas, sem luz... Era como fazer uma cirurgia cardíaca no escuro, toda a precisão morre, e o paciente também, artérias entupidas. Alguns disseram que a festa ficou até melhor, que o violão amplificado estava muito distorcido, e que a luz de velas era muito mais intimista. Ao ouvir isso, Guedes ficava roxo, e se perdia no corredor, murmurando: "minha luta, minha luta, minha luta...", como se a luta fosse de fato dele, como se, deixando de vê-la, as chances de sucesso do seu favorito diminuíssem drasticamente.    
       Quanto ao Teles, a parca iluminação só fez ajudá-lo a manter sua reputação. Quarenta minutos após sua chegada, todas as taças estavam quebradas e os convivas bebiam do gargalo. É claro que não foi o Teles quem quebrou todas as taças, mas de fato as taças só começaram a ser quebradas em massa depois da sua chegada. Alguns diziam que era uma aura que ele irradiava, uma influência que era impossível escapar. O único que não quebrou nada foi o Guedes, agarrado à sua latinha de cerveja, churrasqueiro de raiz, frustrado até a gota. Teve uma ideia: ligar para o cunhado, pedir para ele colar o celular na TV para ver se dava para captar alguma coisa. Não estava dando. Quase chorando, o Guedes resolveu aceitar aquela garrafa de uísque que o Vasquez tinha ofertado para aplacar-lhe a angústia. Sentou num degrau isolado, serviu uma dose, pôs a garrafa de uísque na frente dos pés e observou o refletir dourado e bruxuleante do líquido adiante das velas, celular colado no ouvido, ouvindo estática. Foi quando o Teles passou correndo e chutou a garrafa de uísque, estilhaçando-a em mil caquinhos. O Guedes quis botar o rosto entre as mãos e chorar, mas a Glorinha da contabilidade surgiu através das velas e ele engoliu as lágrimas:
       - Posso tomar um gole do seu uísque? Eu estava bebendo vinho, mas parece que o Teles quebrou a última garrafa, e parece que a dose que está na sua mão também é a última.
       E a Glorinha pôde. Tomar um gole, dois, três... Quando estava se sentindo meio tonta, e quis ir embora pra casa, "pra não fazer bobagem", eles descobriram que o Teles, ao ir embora, conseguiu quebrar a chave dentro do trinco da porta, de maneira que todos ficaram presos na casa do Vasquez até às sete da manhã, quando chegou o chaveiro. "Todos", no caso, eram o Guedes, a Glorinha, e os donos da casa, que, bons e calejados anfitriões, ofereceram um único quarto:
       - Desculpa, gente, só tem esse quarto. O sofá da sala está impossível.
       - Problema nenhum. - respondeu o casal, em uníssono. 
       Duas semanas depois, o Guedes ainda não sabia o resultado da luta.




por>guilhermesiman...Baseado em um certo ser e outros ser(es) +







terça-feira, 30 de outubro de 2012








Feitoagora...


Estar só, me faz rosnar solos no violão, me faz comprar Cactus em demasia, me faz não pisar no solo (como deveria). Estar preso no metrô me faz ser distante, me faz não querer tomar providências amorosas...Retorno ao vinho, a minha reserva, ao meu engano. Tudo me parece estar extinto... Tudo é esse vazio virtual, esse não abraço, esse não encontro... Não amor! É a queda de joelhos (ele dói a cada degrau vencido) é a falta de todos os lados... O lado que te protege, o lado da parede que te faz bem ao lado da cama, o lado abraçando você na chuva, o lado te oferecendo um abrigo no colo... Eu estou sem os dois lados, pois ficaram perdidos na estrada (em algum lugar).Construo o meu casulo, meu lado escorado por fios que arrebentam a cada instante...Desisto e contemplo as paredes do meu quarto, os quatros cantos... Tudo é um grande deserto branco! Penso nos Cactus e nas suculentas... Estranho não cultivar os canteiros ou mesmo a areia e o céu  da praia violeta...Estranho ler o livro do velho poeta corroído por traças no meio das conchas com areia. Pego o teu bilhete na geladeira! Como tudo vai ser em outros instantes? Como vai acontecer? Quem você irá encontrar pra dizer bom dia? Quem vai ser você daqui a exatos sete anos? O presente me faz silenciar perto de sua magnitude, às vezes ele passa despercebido no meu humor ato-a ou no meu sorriso só... Ele o "Presente"  tenta mostrar suas novidades com toda seriedade possível  mas eu me pego comprando paixões platônicas no banco do ônibus ou na escada rolante de um edifício qualquer, ou mesmo aqui sentado ao teu lado ...Meu passado? Tomo café com ele todos os dias, ele baila em meus sonhos, ele me traz de volta os olhos azuis...Por enquanto! Mas pela janela eu vejo a moça do correio, eu beijo a noiva, eu abraço o amor na morte eu coloco a placa na árvore da sorte... Ela diz: Vende-se Sonhos!

                                                                                                                                       
                                                                                                                                                   

                                                                           




letra&foto:
jk.






quinta-feira, 25 de outubro de 2012


  

                          
                                                                          ...


DOIS...

Mas que diferença faz que um grito seja fraco ou forte? O que é preciso é que ele pare. Durante anos acreditei no fim de seus gritos ... Agora não acredito mais.

Teriam sido necessários outros amores, talvez. Mas o amor não se encomenda.

[O Ator retira a Flor do vaso, vai em direção ao banco - luz no plano central – O ator senta no banco – luz no banco – diz o texto olhando para a Flor vermelha]

O que se chama amor é o exílio, com um cartão- postal da terra natal de vez em quando, foi esse meu sentimento naquela noite. Quando tudo terminou, e meu próprio eu, o domesticado, foi reconstituído com o auxílio de uma breve inconsciência...Encontrei-me só.


[B.0]

...

Este texto é uma adaptação livre da novela “Primeiro Amor” de Samuel Beckett, escrita em 1945.

Personagens: Tell & ANNE
...
JK